Lidar com adversidades é necessário para a nossa evolução como sociedade
Entender a resiliência como um dos fatores de proteção às violências que podem ocorrer com os sujeitos, abre espaço para trabalhá-la no cotidiano, seja em casa, nas instituições ou nas comunidades.
No Núcleo Espiral, dentre os cinco pilares que regem o trabalho realizado na prevenção da violência, está a resiliência, partindo do pressuposto de que ela é a capacidade dos sujeitos, grupos e/ou comunidade de lidarem com as adversidades e dificuldades em seus atuais contextos ou histórias que podem surgir ao longo da vida.
Luthar, Cicchetti, Becker (2000) definem resiliência como “um processo dinâmico que tem como resultado a adaptação positiva em contextos de grande adversidade”. As adversidades podem ser tanto um fator de risco, ou seja, uma situação de vulnerabilidade e pobreza, como uma situação específica vivida por uma pessoa, como, por exemplo, a perda de alguém.
O que acontece com uma pessoa que não tem resiliência? Em alguns casos, com exceções, é uma pessoa com dificuldade de regular suas emoções e entender quais os sentimentos presentes na situação está vivenciando, impedindo-a de conseguir se expressar. Cada sujeito irá manifestar isso de uma maneira e pode prejudicar tanto a si mesmo, não conseguindo lidar com as situações que exigem um pouco mais, quanto o ambiente em que se encontra, afetando os demais à sua volta.
Assim, entendemos, a partir do modelo ecológico, a exemplo de Bronfenbrenner (1974), que estamos dentro de sistemas e eles interagem entre si, portanto, trabalhar a resiliência no individual, consequentemente auxilia no grupal e coletivo, ampliando a capacidade do sujeito de lidar com as situações adversas e também a de cuidar das relações ao seu redor.
Diante desse modelo e da visão do paradigma da resiliência, é a partir de quatro níveis que cuidamos da resiliência e, consequentemente, prevenimos a violência:
Nível individual – recursos individuais como a capacidade do indivíduo de se adaptar, de controlar suas emoções;
Nível relacional – recursos disponíveis nas relações próximas, como família e amigos;
Nível comunitário – recursos disponíveis dentro das comunidades nas quais participamos, como as escolas e instituições em geral;
Nível social – as leis que promovem os direitos das pessoas.
Contudo, um nível interfere no outro: se a resiliência não é trabalhada, ela desequilibra o ecossistema envolvido, gerando pequenas violências.
Por estas, entende-se tanto a auto violência, pois não há espaço para trabalhar os sentimentos e cuidar de si, quanto a violência com o outro que está perto.
Por isso, para se trabalhar a resiliência, é necessário abrir espaços de descompressão dos sentimentos, trabalhar o autocuidado e a autocompaixão, práticas que realizamos dentro de nossas atividades do Espiral. Entendemos que a partir da ampliação de recursos internos, do uso de práticas que acolhem as singularidades de cada um e trabalham a empatia, a escuta, a auto conexão e a conexão entre membros, estamos favorecendo o aumento de ferramentas de cuidado, prevenindo e amenizando as violências existentes dentro e fora dos contextos atingidos.
A resiliência é importante por vários aspectos:
Adaptação às mudanças: A vida está repleta de mudanças e desafios, e a resiliência permite que as pessoas se ajustem e enfrentem essas mudanças de forma mais positiva, evitando sentimentos de desespero e desamparo;
Redução do estresse: Pessoas resilientes têm a capacidade de lidar com o estresse de forma mais eficaz, o que pode levar a uma melhor saúde mental e física a longo prazo;
Melhoria da saúde mental: A resiliência está associada a uma menor probabilidade de desenvolver problemas de saúde mental, como depressão e ansiedade;
Aumento da autoestima: A superação de desafios e a solução de dificuldades podem levar a um aumento da autoconfiança e autoestima;
Fortalecimento de relacionamentos: A resiliência permite que as pessoas mantenham relacionamentos saudáveis mesmo em meio a dificuldades, pois conseguem lidar com conflitos e adversidades de forma construtiva;
Alcance de objetivos: A capacidade de enfrentar obstáculos e superar frustrações torna as pessoas mais propensas a alcançar suas metas e aspirações de vida;
Inspiração para outros: Pessoas resilientes podem servir como modelos e ser fontes de inspiração para outros que também enfrentam desafios, encorajando-os a superar suas próprias dificuldades;
Melhoria da tomada de decisões: A resiliência ajuda a pessoa a manter a calma e a clareza mental em momentos difíceis, o que pode melhorar a assertividade das decisões tomadas;
Fomento à aprendizagem: Através da resiliência, as pessoas podem transformar experiências difíceis em oportunidades de aprendizado e crescimento pessoal.
É importante ressaltar que a resiliência não é uma característica inata, mas uma habilidade que pode ser desenvolvida ao longo da vida. O apoio emocional, a construção de uma rede de suporte social e o desenvolvimento de habilidades de enfrentamento são alguns dos elementos que possibilitam o aumento da resiliência em sujeitos e comunidades.
Autora: Ariela Kalili Psicóloga, educadora, aprimorada em Desenvolvimento Humano para infância e adolescência pelo HCFMUSP, pós-graduanda em Educação Sistêmica pela Pedagogia Para Liberdade. Coordenadora da Área de Assistência Psicológica e Formadora de Educadores no Núcleo Espiral.